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Quantas vezes já me invadiram

quarta-feira, 13 de abril de 2011

GLORIA TESCH: QUANDO O EGO É MAIOR DO QUE O TALENTO


Há dois dias atrás ouvi falar de um “novo jovem talento” em literatura infanto-juvenil e fantástica. Tentando ser optimista não pensei logo: “Oh boa, temos uma nova Meyer, o mundo da literatura está tramado!”. Ironicamente acabei por saber mais da autora do que da “saga” que ela escreveu (mais um caso em que o termo “saga” está incorrectamente aplicado).

Embora não tenha lido ainda nada que me faça avaliar a jovem Gloria Tesch, muito embora as críticas abundantes de uma estrela ao seu primeiro livro no amazon, assim como algumas outras coisas que descobri sobre a história dela entre as quais a redundância (coisa que por vezes irrita), ouvi mais do que suficiente sobre ela como pessoa para não a poder ver nem pintada. E escrever oitocentas páginas em menos de um ano cheira-me mais a pressa do que q esforço.

Ao que parece, esta catraia, natural da Flórida, escreveu o primeiro livro da “saga” Maradonia, com onze anos e publicou-o com treze anos de idade. Só que o papá e a mamã pagaram um balúrdio para que a obra fosse publicada sem ter que passar por nenhum editor (faz-me lembrar o caso de Cristopher Paolini, autor de “Eragon” e da “Triologia” da Herança, que conseguiu publicar o livro… na editora da qual o papá e a mamã são donos!). O livro é então “escrito ao natural”. Tão escrito ao natural que até a originalidade é posta em causa: quem aqui acha que o nome dado aos vilões, “O Império do Mal”, é original? Agora pensem…

Não estou a dizer que os menores, inclusive crianças, que resolvam escrever um livro sejam maus autores. Eu própria já li um livro que foi publicado, tinha a autora 12 anos de idade. “A Profecia das Pedras” de Flavia Bujor, apesar de não ter sido um livro fantástico, foi até um bom começo para a sua carreira da escritora (não sei se ela escreveu entretanto mais nenhuma obra, mas caso o tenha feito estarei disposta a ler, assim que tenha tempo).

O maior problema de Gloria é o facto de esta não aceitar qualquer forma de crítica que a ela seja dirigida. E pior do que não aceitar, é tentar silenciá-la.

Quem for à página principal do livro e puser um comentário com uma crítica, por muito construtiva que seja, em breve verá essa crítica a ser apagada (somente o amazon está seguro). Nada nem ninguém poder ir contra “sua majestade”. Uma das suas citações mais infames foi quando, dizendo aos seus críticos que não os consegue ouvir devido ao facto de ser tão “espantosa”. Já chegou ao ponto de denunciar vídeos do youtube que falam mal dela, com a desculpa de estes usarem “a sua imagem” sem autorização. Um tanto hipócrita tendo em conta que ela usou imagens das quais ela nem sequer criou (inclusive da própria Disney) para fazer um cartaz promocional do filme baseado na sua obra (vão contendo o riso que mais à frente falarei disso).

Esta rapariga teve inclusive a lata de um belo dia ir a uma livraria e de mexer nos livros que estavam no top de vendas, e de pôr o livro dela no 1º, 2º e 3º lugares na lista dos mais vendidos. Até é de admirar como nenhum funcionário não tenha dado conta e a tenha chutado dali para fora.

Outros actos que esta fedelha (sim, cheguei ao ponto de lhe chamar fedelha) cometeu foram o de invadir o Yahoo e o Wiki Answeres com a pergunta de “Quem é a autora mais nova de sempre?” e responder que é ela mesma. Um grande erro tendo em conta que para além de Flavia Bujor, outros autores que publicaram obras com recurso a editor: Daisy Ashford, por exemplo, tinha 9 anos quando publicou “The Young Visiters” (não sei se esta obra existe em Portugal). Portanto as pessoas não são tão facilmente tomadas por parvas como ela julga.

O mais hilariante que soube desta miúda foi que ela para além de um filme baseado na sua obra, quer também um parque temático baseado em “Maradonia” (ok, já se podem rir!). Ainda mais hilariante é o facto de ela estar a tentar convencer as pessoas que todos a adoram como à JK Rowling, por exemplo. A diferença entre as duas está claramente à vista: quem fez por merecer popularidade e quem está desesperadamente à procura de atenção? A resposta está de tal modo à evidência de todos que nem vou responder para não tomar o leitor por parvo tal como a menina Tesch faz.

Portanto apenas vejo as minhas expectativas em relação à literatura a decaírem cada vez mais à medida que olho para os novos talentos. Tenho saudades dos tempos em que os escritores se esforçavam para que a obra ficasse decente, hoje em dia basta ter dinheiro e cunhas e a pessoa tem uma recompensa que muitas vezes não merece.

Pensem nisto, caros invasores. Pensem e digam-me se autores como esta são dignos de receberem boa fama…

@Sarah Sampaio

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