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Quantas vezes já me invadiram

terça-feira, 5 de abril de 2011

A Personagem mais Anti-Feminista de todos os tempos

Tenho olhado muitas vezes para mim mesma e como muitas mulheres tenho dias: dias em que não valho nada, dias em que sou a maior, dias em que não sou a maior, dias em que sou a pior pessoa do mundo e dias em que a Madre Teresa de Calcutá teria de se ajoelhar perante mim.

Creio que estou a ser realista quando digo que nós mulheres somos instáveis e imprevisíveis. Mas temos que nos conseguir afirmar nesta sociedade cada vez mais lixada e conseguir encontrar um lugar no Mundo só nosso. Uma forma de ajudar é tendo modelos que nos sirvam de exemplo. Tal não é o caso de Isabella Marie Swann também conhecida por Bella Swann.

Agora que a “loucura” à volta da “saga” Crepúsculo (pus a palavra “saga” entre aspas pois demasiado pouco acontece nessa história. Uma saga é composta por poucos livros, mas por grandes e fantásticos acontecimentos. Tal não é o caso desta história.) está a passar creio que posso expressar a minha opinião sem que ninguém me caia em cima. E mesmo que alguém em caia em cima não conseguirá mudar a minha opinião. Tenho ideologias já muito enraizadas e grande parte delas foi o que me levou a detestar tanto esta personagem.

O termo que resume esta personagem é o de “Mary Sue”. Uma “Mary Sue” é referente a uma personagem que é “perfeita”: bonita, delicada, que sabe fazer de tudo e mais, e que atrai todos os homens que quer, ou até os que não quer. Todos gostam dela na história mesmo que na vida real fosse das pessoas mais irritantes que alguém fosse a conhecer. Evidentemente tal personagem não é nem nunca será real. Mas aí começa o problema…

O facto de esta história ser contada a partir da primeira pessoa, o que coloca o leitor quase dentro da pele da personagem em questão. A razão pela qual tantas mulheres se sentem “familiarizadas” com a história é devido ao facto de esta personagem ter um pouco de todas as típicas inseguranças femininas (“Será que sou bonita? Será que reparam em mim? Será que valho alguma coisa?”).

Mas nessa história mesmo que ela seja a pessoa com a mais baixa auto-estima do Mundo, tem tudo o que quer sem nada fazer para isso: pais que a adoram, amigos que morriam por ela (Jacob, muito embora vá falar do caso desse “lobisomem” mais à frente), uma vida normal, sem problemas sociais. E no entanto esta criatura não se sente nem um pouco grata por ter a vida que muitas gostavam de ter tido no liceu (no primeiro dia de aulas dela tem logo cinco rapazes a caírem-lhe ao pés! Quem me dera ter sido tão recebida no primeiro dia do secundário…)

A personalidade de Bella é o maior problema que tenho com esta personagem. Mais de metade do livro ou é ela queixar-se sem qualquer motivo da vida “miserável” que tem, ou a falar dos “Belos olhos castanhos de Edward”.

Ah, agora que falei nesse nome, lembrei-me da segunda razão pela qual eu detesto a “Saga” Crepúsculo. Outra “perfeição” que pura e simplesmente não consigo suportar.

Há algum tempo atrás tive um blog com algumas outras pessoas, e falei um pouco da “Saga” Crepúsculo. E citei as seguintes palavras sobre o assunto:

"Sobre o Edward… A partir do momento em que acabei de ler “Eclipse”, tive uma epifania: O Edward é o tipo de namorado que espero nunca vir a ter! Ele anda sempre a controlá-la de uma maneira que parece obsessiva! Se eu descobrisse que um rapaz super misterioso e "jeitoso" me andava a ver enquanto dormia… a primeira coisa que faria era ligar para a polícia e conseguir uma ordem de restrição!"

Agora que recordei um pouco do que disse, continuemos…

Na vida real acho que nenhuma rapariga conseguiria aguentar com um namorado como Edward: ele controla a vida de Bella constantemente, mal lhe da o seu próprio espaço pessoal, andou a vê-la a dormir à noite sem ela saber, em síntese, não lhe dá um pingo de autonomia! A única razão dada para estes dois se apaixonarem é: porque ela cheira bem, e ele é “perfeito” e não consegue ler os pensamentos à rapariga. Nada mais.

Bella a uma altura nada consegue fazer sem Edward a ampará-la. Tal prova a pouca auto-estima que ela tem. Se ela fosse só um bocadinho autónoma e pesasse por si mesma não ficava com o primeiro rapaz que lhe aparecesse à frente, ou se ficasse não tolerava que ele controlasse a sua vida, muito menos que abusasse dela (sim, abuso é também uma palavra que descreve a relação dos dois. Não acreditam? Continuem a ler…). Em “Eclipse” ele é pura e simplesmente possessivo com ela, na medida em que não a deixa conviver com os amigos, convence Alice a raptá-la do nada e a ir a uma festa do pijama forçada, e lhe tira o motor do carro. E Bella como é fraca e medrosa nunca o confrontou pelos abusos que ele faz. É de tal modo fraca que aceita casar com ele, quase contra a vontade dela.

Por falar nessa última parte… Uma das cenas mais estúpidas que esta história tem é aquela em que Os dois vão para UM QUARTO com uma CAMA DE CASAL para MARMELAR, e no final ele NÃO FAZ SEXO COM ELA porque QUER ESPERAR ATÉ AO CASAMENTO… Sentes que algo bate mal? Se sim então óptimo!

No último livro vê-se que a relação dos dois é baseada em atracção sexual e não em amor. A meu ver Bella só aceitou o casamento precipitado com Edward porque queria fornicar com ele. E depois de fornicarem na lua-de-mel, a partir daí eles não querem outra coisa. Mesmo depois quando o “perigo final” (que no final é só tipo uma conversa de “Olá, tudo bem? Xau!”) está à porta, vêem-se num quarto… E TOCA A FORNICAR!

Contudo aqui vai a maior prova em como Bella não é uma personagem que seja exemplo a seguir, não tem amor-próprio, não sabe ser independente, e é uma pessoa que se afirmasse que era feminista, daria um mau nome a todas as mulheres que defendessem essa ideologia. Em “Lua Nova” Edward deixa Bella sozinha no meio da floresta, perdida, destroçada, ao frio e à chuva. A rapariga entra numa depressão enfadonha… SIM ENFADONHA! Sou sincera: se um namorado me deixasse eu passaria um mau bocado, MAS continuaria com a minha vida. Tantos meses deprimida pelo mesmo motivo já é sinal de que é necessária terapia ou um pulinho até ao Sanatório mais próximo.

Na história quem é realmente amigo de Bella e a apoia nos piores momentos é Jacob. Aí está uma personagem com carácter, alguém que está lá para o melhor e para o pior. No entanto ela borrifa-se para ele exactamente como Edward se borrifa para ela. Bella escolhe sempre aquele que abusa dela e não aquele que é amigo dela. E mesmo quando ela descobre que Jacob não lhe é tão indiferente, ela mesmo assim TEIMA em permanecer na relação que não é saudável.

Ah, ia-me esquecendo que ela passa por uma fase em que faz loucuras que ninguém com um pingo de sanidade mental faria: aceita dar voltas de mota com desconhecidos, anda de moto sem travões e bate, e a melhor ATIRAR-SE DE UM PENHASCO COM O MAR REVOLTADO. Segundo me recordo nessa cena, a intenção dela era o suicídio. Tudo só para voltar a ver a alucinação de Edward que lhe aparece sempre que ela tenta fazer alguma coisa perigosa.

Meninas, saiam do mundo da fantasia e pensem comigo: acham que seriam felizes se vivessem assim na vida real? Acham que vale a pena deixar alguém controlar e mudar as vossas vidas deste modo? Acham que esta personagem é modelo a ser seguido?

Deixo-vos para reflectirem meus invasores e invasoras…

@ Sarah Sampaio

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