Páginas

Quantas vezes já me invadiram

quarta-feira, 11 de maio de 2011

“A música já perdeu muito prestígio em relação aos anos antigos”

Ricardo Pereira é músico profissional, e como muitos outros dedicou a sua vida à vocação musical. Há dois anos atrás participou no concurso “Nasci para Cantar” organizado pela TVI. Actualmente dá aulas numa escola de música em Ermesinde, e é convidado a actuar numa variedade de locais. Falamos com ele de modo a saber como se sente com o estatuto que alcançou ao longo dos tempos.


  1. 1. Quando e como surgiu a vontade de se dedicar ao mundo da música?

Ricardo Pereira: A minha vontade de me dedicar à música a sério surgiu por volta dos meus 13/14 anos, quando reparei que a guitarra era um instrumento que me agradava bastante. Então quando comecei a tocar guitarra comecei também a cantar, e apercebi-me que era uma coisa de que gostava bastante. E depois tudo se desenvolveu a partir daí.

  1. 2. Lembra-se das dificuldades por que passou enquanto desenvolvia a sua vocação?

RP: Sim, as dificuldades são imensas, não é? Qualquer músico tem que estudar bastantes horas. Convém também praticar algumas horas no instrumento que se está a aprender a tocar. Há que praticar, tentar encontrar a vocação natural e depois conjugar essas coisas todas para se ter um fim agradável de se ouvir.

  1. 3. Que tipo de trabalhos lhe foram surgindo ao longo dos tempos?

RP: Como músico, certo? Os trabalhos que me foram surgindo, para além das aulas de música que comecei a dar desde muito cedo, foram actuações nos mais diversos sítios e nas mais diversas ocasiões: já toquei em bares, em televisão em directo, em festas ao ar livre frequentadas por milhares de pessoas, em festas particulares, em hotéis e em ocasiões simples como numa festa, num casamento, num aniversário, etc.

  1. 4. Gosta de dar aulas de música? Como é o relacionamento com os seus alunos?

RP: Sim, gosto bastante de dar aulas de música. O meu relacionamento com os alunos, penso que é bom. Contudo, penso que depende dos alunos. No caso dos alunos mais novos, dos 6 aos 10 anos, se calhar vêem-me como alguém com autoridade, que é esse o objectivo de modo a treinarem mais em casa. Com os meus alunos mais velhos, penso ter com eles uma relação de amizade, devido à sua idade mais avançada. Encontram-se alguns gostos em comum, as conversas são mais maduras, e por vezes inclusive vão assistir a actuações minhas, e isso faz com que se desenvolva uma relação de amizade bastante saudável.

  1. 5. Se não fosse a música que outra vocação teria querido desenvolver?

RP: Isso é uma pergunta difícil porque não penso muito nisso. Lembro-me que quando era pequeno queria ser cabeleireiro, porque na altura achava que era uma profissão que dava bastante dinheiro. Claro que hoje em dia isso é relativo, até porque há bastantes cabeleireiros. Talvez gostasse de seguir uma profissão que envolvesse lidar com animais. Penso que se fosse possível, conciliaria isso com a música.

  1. 6. Como consegue conciliar o seu trabalho com a sua vida pessoal?

RP: É muito difícil, porque o meu emprego ocupa-me basicamente 24 horas por dia. Para além de dar aulas também tenho actuações. No caso das aulas é fácil de conciliar porque é um emprego predefinido que sei que tenho de cumprir semanalmente. No caso das actuações é mais complicado, porque me ocupam quase o resto do dia todo. Todos os dias me perco em frente ao computador: Eu posso estar a responder a emails de manhã, de tarde, ou de madrugada; tenho que tratar da minha publicidade às minhas actuações, entre outros assuntos. Com isso perco duas horas, fora o treino que tenho de ter no meu reportório. No fundo as minhas ocupações acabam por me ocupar todo o dia.

  1. 7. Qual é a sua opinião da música actual em relação à musica de anos anteriores, como por exemplo dos anos 80 ou 90?

RP: Penso que a música da actualidade não é muito boa. A chamada música “pop” é demasiado barulhenta, vende muito através da imagem dos cantores (em particular das cantoras que aparecem seminuas em muitos casos), a música tem muitos efeitos especiais de som pelo meio, muita produção de estúdio, e acho que no fundo acaba por ter pouco conteúdo bom. A música de alguns anos, seja dos anos 80, 90 ou até 70 e 50, é música muito boa e muito agradável, porque tem uma base construtiva muito musical, e tudo começa com os excelentes músicos que se preocupam com a qualidade da mesma, e não com as vendas. Tudo isso tem mudado a nossa indústria musical, e cada vez mais os músicos sentem ter que produzir música que obtenha o máximo de vendas, daí a sua qualidade não ser como era há alguns anos atrás. Existe também a questão dos discos, que já não vendem, devido ao facto de as músicas se venderem pela internet, ou serem obtidas através de downloads ilegais. Por consequência as pessoas já não conhecem toda a obra de um artista. Um CD hoje em dia tem que conseguir ser um grande êxito para ser vendido, mas mesmo assim já não existe aquela preocupação de se ouvir um CD desde o início até ao fim. Acho portanto que a música já perdeu muito prestígio em relação aos anos antigos.

  1. 8. Está satisfeito com o que tem de momento, ou ambiciona por mais?

RP: Sim, estou satisfeito, posso dizer que tenho uma vida bastante agradável, e faço aquilo de que gosto. Quanto a ambicionar mais, sim, muitas pessoas ambicionam sempre. Mas não penso muito nisso, mas sim em trabalhar no dia-a-dia, ano após ano, e se algo tiver que surgir, então surge naturalmente. Mas claro ambiciona-se sempre por mais, a um nível musical e pessoal.

  1. 9. Já passaram quase dois anos desde que concorreu no programa “Nasci para Cantar” da TVI. Como recorda a experiência?

RP: Recordo essa experiência como sendo uma excelente fase da minha vida. Lembro-me das excelentes actuações que tive a felicidade de fazer em directo e que me ajudaram a alcançar mais alguns dos meus objectivos pessoais. Foi uma experiência muito positiva e muito agradável. Conheci pessoas que eu admirava há bastantes anos. Foi um privilégio ter trabalhado com elas. Foi mesmo muito bom.

  1. 10. Você personificou o vocalista dos Delfins para actuar no programa. Porquê tal escolha?

RP: Inicialmente eu queria ter interpretado músicas ou dos Sting ou dos U2. Mas como o programa tinha que ter não só um cantor a interpretar um só artista, mas sim dois, nessa minha primeira opção não haveria outro cantor que não quisesse imitar, ou que achava que tivesse a voz parecida com as minhas opções iniciais. Então como terceira alternativa, as pessoas responsáveis pelo casting acharam que eu tinha a voz parecida com o Miguel Ângelo dos Delfins. Cantei mais alguns temas e aí ficaram mais convictos. E assim cantei as músicas do Miguel Ângelo dos Delfins, uma banda da qual eu gostava imenso há alguns anos atrás quando havia aquele prestígio mediático em torno dos artistas. Mas o motivo verdadeiro que me levou a interpretar o Miguel Ângelo foi o facto de não haver mais algum participante que quisesse interpretar músicas dos artistas que pretendia representar. Mesmo assim também gostei muito da escolha final.

  1. 11. Tem algum conselho para alguém que deseje dedicar a sua vida ao mundo da música?

RP: Tenho. O primeiro concelho é que é preciso estudar muito. É preciso praticar-se todos os dias no instrumento que se está a aprender a tocar, e não desistir mesmo quando as coisas não correm bem. Estes conselhos são aplicáveis em qualquer área na vida. Nem sempre tudo é fácil, e há barreiras que é preciso serem ultrapassadas. É preciso estudar, ser-se persistente, ouvir-se muita música, e também encontrar o músico que há dentro de nós, porque nem sempre o estudo chega. É preciso olharmos para entro de nós e ver o que pode sair de dentro. Aparte disso, acho sempre bom que tenhamos outra alternativa, isto é, não sonhar fixamente em ser um músico profissional, pois isso poderá nunca vir a acontecer. Penso que o ideal será sempre ter outra alternativa. Porque não tirar um curso superior e tirar um curso de música à mesma? É possível uma pessoa estar a tirar uma licenciatura e dedicar-se à música nas horas mais livres. É sempre uma excelente alternativa. As artes em Portugal não são muito bem vistas, não há uma grande projecção neste país, e penso que uma alternativa relacionada com isso é muito boa.

2 comentários:

  1. Sim senhora, uma muito boa entrevista. Temos jornalista, já estou a ver :)

    ResponderEliminar
  2. Teeeheee é a UTAD que me está a ensinar bem :)

    ResponderEliminar